
Vivemos na sociedade da cultura-mundo que adotou,
como mote, o “politicamente correto” e a linearidade. O ser humano mediano do
século XXI é, de um modo geral, monótono, entediante, produzido em série, e
como se já não bastasse, pedante e blasé. São os “Poetas (fingidores) de Si
Próprios” nas redes sociais. Publicam a vida que queriam ter, como se já a
tivessem. As aspas no termo “politicamente correto” devem-se à relativização do
termo, nos dias atuais. Pois o que se vê é o politicamente correto para o resto
da humanidade, menos pra mim. “Eu consigo justificar minhas atitudes, ainda que
elas sejam taxadas de incorretas, mas o fulano não, ele merece a morte, a
fogueira!!”. Escala dupla de valores é o mote real.
Dada essa realidade frustrante, não há mesmo muito
como conjugar a imagem que projetamos social e conscientemente com quem nós
somos, de fato. A partir disso, quando temos oportunidade, nos liberamos. Como
ficamos represados por um bom tempo, quando nos soltamos, nós nos sentimos os
reis do Universo – e somos capazes de nos sentir congeniais até com Walt
Whitman.

Não se defende aqui que as pessoas não devam
respeitar os direitos alheios - quem quiser, pode se enquadrar e buscar
aceitação como um cachorrinho busca o bando, esse também é um direito
inalienável – mas esses devem aceitar que os seres humanos são diferentes e não
tentar impor sua conduta, seus parâmetros de comportamento aos demais. Essa
consciência é a mais difícil de ser encontrada hoje em dia.

A atitude naturalmente decorrente é observar o Rio
da Vida passar, sem intervir, e/ou se tornar uma pessoa blasé, embora exista
uma diferença entre o blasé convicto por tudo quanto já foi dito, e o blasé
empertigado, de foto, que copia um modelo. Falta história de vida no copiador,
falta estofo. É só a mania de “fazer o carão”, como se diz, fazer o superior,
“A Poderosa”, e jogar um “Beijinho no Ombro”. Muito, mas muito pouca paciência
pra isso.
A indiferença é a marca registrada de quem já
diagnosticou o modus operandi da
humanidade, o “Eterno Retorno” a que se referia Nietzsche. Embora na
atualidade, essa indiferença tenha sido apropriada erroneamente pelos
copiadores e ressignificada como o “ser blasé”. Mas é só uma casca, afinal de
contas, não é nada difícil se fazer de blasé, quando se nada num oceano de
senso comum, onde se vive no “stand-by”, só esperando “as novas modas”
passarem, para poder copiá-las. Onde o “por que?” serve apenas para dirimir
dúvidas de como realizar os processos e poder fazer igual, nunca para imaginar
como seria a vida se os mesmos fossem realizados de forma diferente.
Porque a adequação e a retroalimentação desse modelo
trazem uma falsa ideia de estabilidade, de saciedade, conectada com a vida
dentro desse “Panóptico Foucaultiano” do senso comum, do “Rebanho” mencionado
por Zaratustra, de Nietzsche. O compasso do Fado, do Tumulto do Mundo, citando
Pessoa, é composto basicamente de inutilidades, futilidades, odes ao ego, gente
vazia fazendo pose de intelectual, fofocas e afins. Uma hipérbole muito
elucidativa sobre qual seria o destino da humanidade, em termos do status quo do futuro, de acordo com o
jeito como as coisas andam hoje em dia, é a “Capital” da saga “Jogos Vorazes”.
Só a indiferença pretendida por Pessoa, ou o suicídio intelectual é capaz de
ajudar na lida com um mundo desses. Anestesiar os sentidos, como fazem os
jogadores de xadrez, que se sentam à beira do mundo, com uma garrafa de vinho e
só ouvem a guerra e seus horrores, enquanto deliberadamente não se dão conta ou
acordo de tomar atitudes. Só jogam xadrez. Ou sentam-se à beira do rio.
Referências:
SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir.
Referências:
PESSOA,
Fernando e seus heterônimos.
NIETZSCHE,
Friedrich. Assim falava Zaratustra.SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e representação.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir.
Das bin ich !!!
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